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Reitor fala à comunidade universitária em vídeo ao vivo

O reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Curi Hallal, promoveu na noite desta segunda-feira (16) uma transmissão ao vivo para esclarecimentos sobre as posturas da UFPel no combate à transmissão do novo Coronavírus. A sessão de vídeo durou cerca de uma hora, período no qual a comunidade universitária pode interagir com o dirigente, com dúvidas e mensagens relacionadas ao tema. Além de trazer temas relacionados à administração da Universidade no período, o reitor, pesquisador da área da Epidemiologia, também explicou as estratégias de redução de contato social para que seja evitado o contágio.

Hallal está em isolamento voluntário nos últimos dias, visto que retornou dos Estados Unidos no último final de semana, após participar de um programa do Departamento de Estado do país para jovens lideranças. O país norte-americano está com transmissão comunitária do novo Coronavírus; por isso, as autoridades sanitárias sugerem que pessoas que estiveram em trânsito por locais como esses mantenham uma quarentena que se estenda por até 14 dias, pois nesta janela temporal já é possível visualizar com segurança a infecção e seus sintomas.

Letalidade x Mortalidade

Partindo de conceitos epidemiológicos, o reitor explicou a pandemia de Covid-19 pela ótica da mortalidade, número absoluto de mortes, e a letalidade, de número de mortos em proporção aos infectados. Apesar de a infecção por Coronavírus ter uma letalidade baixa, a sua transmissibilidade é muito grande, causando uma mortalidade possivelmente mais alta. Hallal destaca também a letalidade mais alta no grupo de risco formado por idosos e pacientes imunodeprimidos, que tem sido considerada preocupante, podendo chegar a 12 vezes mais que o número geral.

Evitar um grande pico de contágio

Um dos grandes perigos da alta transmissibilidade do novo Coronavírus, segundo o reitor, é que se atinja um pico de contágio em pouco tempo, o que levaria a uma sobrecarga ao sistema de saúde de qualquer país. Por isso, a atitude recomendada por infectologistas e especialistas em saúde pública é que se busque “achatar” a curva de contágio, ou seja, que o ápice do número de infectados demore mais a acontecer e que, quando aconteça, seja com um número simultâneo menor.

Para tanto, a orientação é de uma restrição às interações sociais, com um isolamento pessoal voluntário. Dessa forma, a chance de alastrar o vírus acaba sendo menor.

O reitor apelou para o bom senso dos estudantes, ao dizer que não adianta que as atividades acadêmicas estejam suspensas para evitar o contágio, mas que ao mesmo tempo os alunos não evitem grandes aglomerações em festas e bares.

Por enquanto, pondera Hallal, não é necessária uma parada total, como se acredita. Pequenas reuniões são possíveis, além das interações sociais como a ida ao comércio para compra de mantimentos e medicamentos. “Não é preciso entrar em um estado de desespero, de ir para o supermercado e comprar um rancho, por exemplo”, falou.

Defender o SUS

Hallal diz acreditar que uma das lições a serem aprendidas a partir da pandemia de Coronavírus é que os sistemas de saúde de cada país devem ser guiados por uma lógica de saúde pública e de demanda social, e não de mercado. “Nos Estados Unidos a epidemia estava se alastrando e ninguém sabia, pois os infectados não queriam pagar por seus testes”, disse.

O Sistema Único de Saúde (SUS), segundo o reitor, está adequado para enfrentar esse tipo de infecção, por ser descentralizado e ser desenhado em forma de diferentes níveis de atenção. “O sistema de saúde brasileiro será um fator determinante para que o país tenha o sucesso que terá no combate ao Covid-19”, pontuou.

Ações da UFPel para lidar com a epidemia

A Universidade Federal de Pelotas instalou na última semana um comitê para enfrentamento da questão. Entre as representações existentes, está a das Faculdades de Medicina e Enfermagem, das Pró-Reitorias de Assuntos Estudantis, de Ensino, de Gestão de Pessoas e de Gestão da Informação e Comunicação e do Hospital Escola da UFPel, sendo que foi este grupo que definiu a parada das atividades da Universidade, uma das primeiras no estado a tomarem esta decisão.

Alguns fatos que levaram o comitê a deliberar pela parada das atividades são:

– a grande quantidade de estudantes de outros locais do Brasil, inclusive de locais no quais já há transmissão comunitária do Coronavírus, ou seja, que não se consegue traçar um histórico de contágio.

– a preparação para o enfrentamento da epidemia; o Hospital e os ambulatórios da UFPel serão espaço para atendimento dos infectados pela Covid-19, a partir de encaminhamento das autoridades municipais de saúde.

O comitê está realizando atendimento ao público, para responder dúvidas específicas da comunidade universitária. Para tanto, pode ocorrer o contato via e-mail, no endereço comite.covid-19@ufpel.edu.br. As reuniões do grupo são diárias.

Sobre o retorno dos estudantes às suas casas, Hallal frisa que esta decisão é individual e que não cabe à Universidade o regramento disso. No entanto, é pedido que seja levado em ponderação que Pelotas é uma cidade ainda sem casos de Covid-19 e sem transmissão comunitária e que talvez não seja uma boa ideia o deslocamento para um lugar onde haja transmissão comunitária do vírus.

A UFPel teve suas atividades acadêmicas suspensas. Além disso, os servidores foram orientados a realizar regime de trabalho a distância, mantendo, se necessário, alguma escala de revezamento para atendimento no local de funcionamento do setor. O restaurante universitário está em funcionamento, observando orientações de espaçamento entre pessoas e a higienização dos espaços. Já o transporte circular de apoio foi interrompido. Os auxílios estão todos mantidos.

Sobre a possibilidade de cancelamento do semestre letivo, o dirigente da UFPel acredita ser improvável que tal atitude venha a ocorrer, por ser uma decisão ainda precoce. “A Universidade sempre conseguiu maneiras para cumprir o calendário acadêmico, mesmo com greves de meses”, destacou.

Alunos da UFPel que estão em mobilidade internacional estão tendo seus casos discutidos caso a caso, dependendo do estado da epidemia em cada local. Os estudantes estão sendo contatados individualmente pela equipe da Coordenação de Relações Internacionais de forma a deliberar qual a atitude a ser tomada.

Quanto aos trabalhadores terceirizados, a Universidade está procurando as empresas das quais estes são empregados para explicar que este é um grupo vulnerável ao contágio pelo novo Coronavírus, de forma que eles recebam o mesmo tratamento que está sendo dado aos servidores e os estudantes.

Bancas públicas e seleções não deverão ocorrer no período de suspensão de atividades. Situações em que sejam necessárias devem ocorrer preferencialmente por videoconferência ou com a presença restrita da banca e do candidato.

Colações de grau

Questionado sobre a manutenção das colações de grau externas, promovidas pelas turmas, Hallal afirmou que estas não deverão ser feitas, afinal a Organização Mundial de Saúde não recomenda tal aglomeração de pessoas. Para tanto, ele pede o bom senso das turmas e coloca o comitê à disposição para quaisquer contatos com empresas e fornecedores. Os diretores de unidades acadêmicas foram orientados que realizem a outorga de grau em cerimônias fechadas para os casos de necessidade do grau colado.

Publicado em 17/03/2020, nas categorias Destaque, Notícias.
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