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Estudo evidencia potencial de Macroalgas Sub-Antárticas

Marco mostra um tipo de macroalgaElas podem chegar até 60 metros e são iguarias apreciadas no Chile, mas, mais do que donas dessas características, as macroalgas da região sub-antártica conservam um potencial a ser desbravado. Um estudo elaborado no Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Bioprospecção da Universidade Federal de Pelotas (PPGBBio/UFPel) apontou a grande quantidade de ácidos graxos poli-insaturados, como Ômega 3, 6 e 9, nesses organismos.

O trabalho é fruto do Programa de Cooperação Internacional (PGCI) da Capes, realizado em parceria com a Universidade de Magalhães, do Chile. Foi lá que o pesquisador, o servidor da UFPel e biólogo Marco Aurélio Ziemann dos Santos, passou seis meses realizando coletas de campo, identificação de algas e avaliando os pigmentos de macroalgas sub-antárticas.

Santos investigou as características de seis espécies de macroalgas da região chilena e analisou especialmente a constituição dos ácidos graxos desses organismos – componentes de grande interesse nutracêutico, ou seja, que traz benefício à saúde combinando nutrição e farmacêutica. Dentre os benefícios, grande quantidade de antioxidantes e ácidos graxos essenciais (alfa linolênico e linoeico) que o corpo humano não produz, mas precisa consumir.

Pesquisador em coleta de macroalgasO potencial das macroalgas é promissor. Por exemplo, a alga vermelha da região sub-antártica possui em torno de 60% a 70% de ácidos graxos poli-insaturados, enquanto numa alga de ambiente tropical pode variar de 5% a 15%. “Níveis altos de Ômegas só podem ser encontrados em algas de regiões extremas”, destacou o orientador da pesquisa, professor Claudio Martin Pereira de Pereira. As macroalgas da região de Punta Arenas, objetos da pesquisa, vivem em ambientes que variam de -10º a 9º. “Para sobreviver em um ambiente assim, esses organismos precisaram desenvolver e produzir ácidos graxos poli-insaturados para transportar nutrientes”, explica.

O resultado é que, com esses altos níveis, as macroalgas despertam interesse dos pesquisadores para a elaboração de produtos que beneficiem a saúde. Para se ter uma ideia, o Ômega 6 é encontrado na canola e na chia e, o Ômega 9 no azeite de oliva, mas o 3 é mais raro de ser encontrado. Quando se fala em peixe, trata-se da presença da substância já metabolizada pelo animal, que se alimenta justamente das algas. “As macroalgas de clima frio têm um potencial bem maior”, salientam Santos e Pereira.

Marco lava uma alga no tanqueDe acordo com os pesquisadores, o grande trunfo do trabalho é servir de suporte a futuros estudos, alguns dos quais já começam a ser desenvolvidos, como na elaboração de fármacos – as algas poderiam ser alternativa natural para combater doenças bacteriológicas, visto que essa matéria-prima, em combinação com outros fármacos, poderia atuar na redução do efeito toxicológico. Em posteriores pesquisas pretende-se investir nessas estruturas como um sistema de entrega de fármacos. Outro exemplo é a investigação do extrato das algas para tratamento de câncer de bexiga, investigação que vem sendo feita pelo Grupo de Pesquisa de Oncologia Celular.

O Laboratório onde Santos atuou é um dos mais renomados do mundo e recebe pesquisadores de várias partes do planeta. “É uma região muito importante, diferenciada, muito próxima ao extremo Sul e tem características da Antártica”, observou. Os aspectos trabalhados vão desde questões ambientais até alimentícias, e recebem estímulo do governo para investigar o aproveitamento biotecnológico de matérias-primas como as macroalgas, de forma a gerar produtos tecnológicos e sustentáveis.

A tese, primeira ligada ao PGCI, tem orientação do professor Pereira, pela UFPel, e dos professores da Universidade de Magalhães Andres Mansilla e Maria Soledad Artorga.

“O PPGBBio forma um dos raros especialistas em bioprospecção de algas polares”, destacou Pereira. Parte do trabalho derivou uma publicação recente no Journal of Applied Phycology, importante periódico editado pela Springer – Holanda, e pode ser conferido através do DOI 10.1007/s10811-019-01777-x.

Cooperação Internacional
Além do PPGBBio, projeto envolve ainda os PPGs de Engenharia e Ciências de Materiais e de Biotecnologia.

Várias linhas de pesquisa no âmbito ambiental e biotecnológico estão sendo desenvolvidas com os parceiros chilenos: projetos de lipidômica de algas, para realização do mapeamento da constituição lipídica de macroalgas sub-antárticas, pesquisas sobre novos nanomateriais derivados das algas e a investigação de novos fármacos na linha de oncologia. Um dos objetivos do projeto é que até o final de 2020 tenham sido formados no mínimo até cinco doutores especialistas nessas pesquisas.

Fazem parte do projeto, por parte da UFPel, Claudio Pereira de Pereira (coordenador), Tiago Collares, Fabiana Seixas, Neftali Villarreal Carreño, Marco Aurélio Ziemann dos Santos e Bruna Silveira Pacheco. Da Universidade de São Paulo, Pio Colepicolo. Da Universidade de Magalhães, fazem parte Andres Mansilla e Maria Soledad Artorga. Avanços científicos estão sendo prospectados em uma nova fase com a introdução de novas pesquisadoras, como as professoras Daiane Hartwig e Sibele Borsuk, que já estudam a bioatividade das algas sub-antárticas.