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Inclusão sólida e participativa é destaque no 2º Conlubra

Auditório, mesa de abertura ao fundoAs políticas e práticas de inclusão no Brasil e em Portugal foram destaque na abertura do 2º Congresso Luso-Brasileiro sobre Transtorno do Espectro Autista e Educação Inclusiva (Conlubra), que iniciou nesta quarta-feira (28) na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Realizado em parceria com a Universidade do Minho, de Portugal, e com apoio de diversas instituições de ensino e prefeituras, o encontro vai até sexta-feira, no Campus Capão do Leão.

O Conlubra congrega 650 participantes presencialmente, e tem sido transmitido ao vivo para outros inscritos online. São 24 nomes de destaque na área conduzindo palestras, minicursos e mesas-redondas. Mais de 150 comunicações orais também compõem a intensa programação, que vai até sexta-feira (30) e reúne participantes de todas as partes do país e também de Portugal.

Mesa de aberturaO encontro é fruto de uma parceria entre a UFPel e a Universidade do Minho, que, além de intercâmbio de pesquisadores, tem a proposta de realizar investigações conjuntas sobre Transtorno do Espectro Autista e Inclusão. O evento é realizado a cada dois anos e reúne pesquisadores e interessados no tema. “Queremos refletir sobre práticas, pesquisas, desafios e pontos de aproximação e divergência entre Portugal e Brasil, constituindo um possível foco de mudanças”, salientou a coordenadora internacional, do Instituto de Educação da Universidade do Minho, Ana Paula Pereira. “O Conlubra busca sensibilizar, trazer conhecimento e ser um espaço de diálogo, aprendizado e troca”, complementou a coordenadora nacional, professora da UFPel Rita Cóssio Rodriguez.

O vice-reitor da UFPel, Luís Amaral, pontuou, na cerimônia de abertura, que o Conlubra ajuda a lançar luz sobre um assunto tão importante no momento no Brasil. “É um tema sobre o qual há necessidade de informação, como universidade e sociedade”, disse, mencionando ainda o poema A Cortesia dos Cegos, de Wislawa Szymborska.

Palestrante David RodriguesBem-humorado, o presidente da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial de Portugal, David Rodrigues, falou, na primeira atividade do encontro, sobre as questões relacionadas à nova política de inclusão do país, que data do ano passado. Lá, 98% das crianças com condições de deficiência ou outro tipo de dificuldade estão na escola pública. Escolas especiais e ONGs continuam a funcionar, mas dando apoio ao processo: foram convertidas em Centros de Recursos para Inclusão. E mais: são os técnicos da instituição que vão à escola pública. “A criança tem que estar é na grande escola, que permite o desenvolvimento da cidadania e da participação”, pontuou.

Rodrigues explanou ainda sobre aspectos que podem e devem ser uma forma de melhoria no sistema educacional. “Qualquer melhoria de qualidade acaba por facilitar a adoção de medidas inclusivas”, disse. De acordo com ele, a inclusão floresce em sistemas educativos sólidos e participativos, em ambientes capacitantes. “Há ambientes que nos fazem ganhar ou perder. Não interessa trabalhar só com a pessoa, mas com o envolvimento dela: os ambientes em que interagimos, em que somos criados, dos afetos, da socialização”, destacou.

Auditório lotadoPerspectivas
Para os pesquisadores, a perspectiva da inclusão atualmente cumpre leis e normas técnicas, mas precisa pensar na perspectiva da pessoa. Ou seja, ainda há muito a avançar na sensibilização da comunidade, políticas de conhecimento e convivência. “Criar estruturas é uma etapa, mas queremos chegar num ‘design universal’. Que não exista uma cadeira para pessoas com deficiência, mas que todas as cadeiras possam ser usadas por todas as pessoas. Não é para cada um, mas para todos”, avaliou Rodrigues.

Dentre os temas que precisam ainda ser compreendidos pela sociedade, está o fato de que inclusão não é facilitação, mas o oferecimento de recursos para que pessoas com deficiência aprendam tanto quanto seus colegas. “Inclusão é criar recursos para que todos aprendam da mesma forma. Se a escola é inclusiva, ela não necessariamente precisa ter um aluno com deficiência. Quando ele chegar, o espaço já está pronto”, pontuou Rita. Da mesma forma, se o educandário não dá a devida atenção à questão, acaba por reforçar o entendimento errôneo de que a inclusão não funciona.

Tenor Saulo Laucas Pereira e Orquestra Jovem do PampaAspectos como transversalidade na educação, trabalho em conjunto e papel decisório da família são agregadores e desafiantes nos dias atuais. Some-se a isso a criação de uma dinâmica de permanente de formação e intervenção sobre a organização da escola – afinal, ela não foi criada para ser inclusiva. “Ela precisa se modificar, ter currículo, estratégias, ações colaborativas. Se a escola for a mesma, o resultado vai ser o mesmo que tivemos antes”, salientou Rodrigues.

Tenor e Orquestra
A abertura do evento foi abrilhantada pela apresentação do tenor Saulo Laucas Pereira, do Rio de Janeiro, deficiente visual e autista. Ele foi acompanhado pela Orquestra Jovem do Pampa, de Bagé, sob a regência do maestro Joab Muniz.

 

Tenor Saulo Laucas Pereira